sexta-feira, 1 de outubro de 2010

People hate losing, more than they like winning

Por vezes, a maior parte das perdas é um ganho que nos escapou. Quem tem de escolher entre um serão agradável em casa, e passar umas horas não menos agradáveis numa festa, onde poderá vir a conhecer uma bela mulher, arrisca apenas perder essa oportunidade. Para a maioria dos homens esse risco é suportável.

Mas imagine agora que podia escolher entre passar uma noite em casa, com a sua nova namorada, e passá-la, juntamente com ela, numa festa. Entre os convidados encontra-se no entanto, um sujeito que lhe pode "roubar" a beldade. Por certo que estará muito menos disposto a correr esse risco.

Mas, no fundo, as suas avaliações até nem são completamente lógicas. Afinal de contas, em ambos os casos, o pior que lhe pode acontecer é ficar outra vez sozinho. No entanto, a nossa avaliação subjectiva é distinta: perder algo é pior que não alcançar algo. Uma vez que o cérebro está preparado para responder mais às emoções negativas do que às positivas, apercebemo-nos da irritação e da tristeza de uma forma bem mais intensa do que nos apercebemos da alegria e da felicidade.

É por isso que nos empenhamos mais em minimizar o mal do que em procurar a felicidade. Essa é também uma das razões que explicam a nossa dificuldade em lidar com os acasos: eles põem em perigo o status quo. E nós consideramos um possível agravamento da nossa situação mais ameaçador do que uma inesperada mudança para melhor nos pode parecer aliciante.


É claro que contra o exemplo do solteiro se pode argumentar que o sofrimento amoroso e os ciúmes são particularmente difíceis de suportar. O psicólogo Daniel Kahneman, decidiu, por isso, apresentar o problema de outra maneira: imagine que pagou 50€ por um bilhete para um concerto. À entrada apercebe-se de que perdeu o bilhete. Ainda há lugares, mas será que está disposto a pagar mais 50€? A maioria das pessoas questionadas respondeu "não".

E qual seria a sua decisão se estivesse na fila da bilheteira, para ir ao espectáculo dessa noite, e se apercebesse de que tinha desaparecido uma nota de 50€ da sua carteira? Neste caso quase 90% das pessoas interrogadas por Kahneman responderam que não deixariam de comprar o bilhete. É como registássemos o dinheiro já pago, nas nossas cabeças, numa outra conta como uma quantia que ainda temos de gastar: no primeiro exemplo imaginamos que, devido ao azar, o concerto não iria custar 50€, mas sim o dobro. E não queremos pagar tanto dinheiro por duas horas de música. No segundo exemplo, pelo contrário, aparentemente a perda não parece ter nada a ver com o espectáculo. E no entanto, o resultado é idêntico em ambos os casos: perderam-se 50€. Como na questão da ida à festa, o que conta, neste exemplo, não é só o resultado final, mas, também, como é que chegámos àquela situação. Sobre essas armadilhas do pensamento, Kahnemen desenvolveu toda uma teoria das falsas expectativas, a chamada "Prospect Theory".
do livro, Como o Acaso comanda as nossas Vidas, de Stefan Klein 

O próprio Kahneman a falar sobre o assunto:

"The emotional tail wags the rational dog"

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