Na linguagem técnica dá-se o nome de realimentação (feedback) a essa constante adaptação ao ambiente. Já nos deparámos várias vezes com este princípio. Frequentemente, a realimentação desencadeia comportamentos imprevisíveis, pois pode contribuir para que um efeito se autopotencie. Nesse caso, trata-se de uma realimentação positiva. Um exemplo para um desses efeitos "bola de neve" é uma crise de histeria na Bolsa: os investidores compram um título só porque outros também o compram, até que a bolha rebenta.
Mas também pode acontecer o contrário: realimentações negativas estabilizam um sistema. Nesse caso, um acontecimento não contribui para o seu próprio fortalecimento, mas desencadeia efeitos de reacção contrária, tal como um condutor vira o volante para a esquerda, assim que o carro começa a puxar demasiado para a direita. É também segundo esse princípio que funciona o termóstato de um radiador: assim que uma determinada temperatura é atingida, o termostato desliga o aquecedor e só volta a ligá-lo quando a temperatura desce para um determinado nível. A realimentação negativa opõe-se, portanto, à imprevisibilidade, vencendo o acaso com as suas próprias armas.
[...] No entanto, numa situação insegura, na maior parte das vezes não é possível prever se uma intervenção tem o efeito desejado de uma realimentação negativa, ou se, pelo contrário, vai tornar a situação ainda mais instável. É precisamente por isso que se devem tomar muitas pequenas decisões e observar com toda a atenção os seus efeitos, de modo a poder intervir imediatamente, assim que uma evolução desfavorável começar a desenhar-se.
Frequentemente esta é a única via para superar situações complexas. Se no início não dispusermos da informação necessária para planear a longo prazo, então só nos resta alcançá-la a pouco e pouco, recorrendo a um método de tentativa e erro. Ao tomar decisões contínuas, mas com um alcance restrito, restringimos também, a cada escolha que fazemos, as possíveis consequências indesejáveis. Com isso, o princípio dos pequenos passos e da realimentação negativa segue os conselhos da Teoria do Jogo: age de modo a restringir o mais possível os maiores danos que possas vir a sofrer. Quem actua segundo esse lema pode dar-se ao luxo de dar passos em falso, à medida que vai avançando em terreno desconhecido. [...] Para quem quiser ou tiver de mudar a sua vida, a táctica dos pequenos passos é, quase sempre, a única estratégia possível. [...] "O que é que me impede de ser mais esperto a cada dia que passa?", replicou Konrad Adenauer, quando um orador o acusou na Assembleia de andar continuamente a mudar de opinião.
[...] Particularmente em situações em que reina a maior das incertezas, convém confiarmos no acaso. Sob um ponto de vista estritamente matemático é possível provar que, com frequência, essa é até a melhor estratégia. E isso porque quem entrega a decisão à deusa da fortuna livra-se, pelo menos, de um erro: todos os preconceitos são, automaticamente, eliminados.
Do livro, Como o Acaso Comanda as Nossas Vidas, Stefan Klein
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